quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Brothers


Eu nasci no mesmo ano em que o homem chegou à Lua. Tenho dois imão mais velhos, ou tinha... Meu irmão mais velho tinha uma diferença de idade de 13 anos para mim e meu outro irmão 12 anos. O irmão mais velho é o objeto deste post...


Ele faleceu com 39 anos, eu estava grávida da minha primeira filha. Era hiper, ultra, mega inteligente, mas era portador de uma doeça psiquiátrica conhecida como esquizofrenia paranóide.


Tenho poucas lembranças dele durante minha primeira infância, mas o que me lembro é de um garoto lindo, cabelos negros e olhos verdes profundos, muito carinhoso e risonho. A primeira lembrança mais vívida que tenho dele e de um dia depois de uma briga de adolescente em que tinha apanhado e batido num rival, tipo briga por causa de uma garota saca? Normal na adolescência...


Bom , mas eu sempre tomava café da manhã sentada no colo dele e naquele dia eu não pude fazer isso, por que ele sentia dor. Fiquei me sentido meio sem lugar. Nessa época a doença ainda não havia mostrado as garras...


Menos de dois anos depois ele fez vestibular e foi aprovado com a maior nota na área de saúde, tinha feito prova para biologia, mas sua nota era maior do que a do pessoal aprovado em medicina e em ondoto. Logo depois do vestibular o monstro apareceu...


Não conheço a doença tecnicamente e não sei os termos científicos referente a ela. Sei apenas que a doença transformou meu irmão doce, lindo e carinhoso no Dr Jekil. Minha família foi se deteriorando. Ninguém está preparado para conviver com essa doença. Minha casa não era mais o lugar que eu mais gostava, era apenas um lugar onde eu não queria ficar... Minha mãe se perdeu atrás de tratamentos, médicos, terapias, milagres... Meu pai se fechou... A doença do meu irmão era assunto proibido. Ele ficou mais agressivo, mais violento, assustador.


Eu passei a ter medo do meu irmão. Fora da crise continuava a pessoa doce que eu conhecia, mas de repente tudo mudava. Quebrava as coisas em casa, agredia estranhos na rua, conversava com vozes que me davam medo.


Os dias passaram a ser sombrios e as noites as portas eram trancadas...


Meu irmão nunca ssumiu que era doente e precisava de tratamento. A medicação lhe era ministrada através de vários subterfúgios, dissolvidas em sucos e vitaminas.


Ele engordou, parou de ter os cuidados básicos com a higiene pessoal. Ele fedia. Fumava o dia inteiro e falva sozinho todo o tempo. Não saia de casa. Ninguém nos visitava e a gente também não ia às casas de muitas pessoas.


Meu outro irmão foi morar com uns amigos, não aguentou a barra, meus primos que viviam em nossa casa foram se afastando e de repente era só eu, minha mãe e meu pai, além de uma irmã que a vida me deu, que foi trabalhar em nossa casa quando eu tinha três anos, mas mesmo ela se casou e foi embora.


O dinheiro não sobrava, mas nada faltava em nossa casa, pleo menos nada material. Faltava paz, faltava alegria, mas isso não tinha como ter com essa espada sobre nossas cabeças.


Vi, várias vezes, meu irmão tirar sangue em meu pai e minha mãe, em mim foi só uma vez (só?). Sempre que isso ocorria ele se arrependia quando pecebia o que tinha feito, pedia perdão, prometia não fazer mais... Mas não era o meu irmão! Era a fera que habitava dentro dele que fazia isso! E a gente nunca sabia quando ela ia aparecer de novo.


Depois que meu pai morreu, eu me casei e minha mãe ficou morando com meu irmão. Um dia ela chega na minha casa de táxi, toda descabelada, com a roupa de ficar em casa, me pedindo dinheiro para pagar o táxi. Seu pescoço estava marcado pelas unhas de meu irmão. Ele tinha tentado estrangulá-la! Ela conseguiu escapar e foi me procurar para ajudá-la. Acolhi minha mãe e conversei com várias pessoas amigas, ligadas à saúde à justiça. Fiquei sabendo que não conseguiria internar meu irmão, se ele não quisesse ir. O na época deputado Paulo Delgado tinha feito uma lei que impedia a internação sem que o paciente concordasse com ela. Mas quem estava no comando era a Besta, não o meu irmão. E ela não queria ser encarcerada...


A única forma de levá-lo a tratamento seria através de uma ordem judicial. Levei minha mãe para fazer corpo de delito e demos queixa na delegacia, e enfim ele foi encaminhado para uma clínica psiquiátrica! Ficou lá por três meses e o juiz ordenou que não fosse dada alta sem o parecer do juízo. No etanto, um médico o liberou após três meses e lhe deu uma atestado afirmando que ele era"capaz e senhor de direitos e deveres". Seis dias depois meu irmão foi assassinado!


Quando ele foi internado minha mãe teve uma crise psicótica por stresse, ficou mais ou menos uns três meses fazendo uso de medicação e, quando meu irmão foi liberado, ainda não tinha condições de conviver com ele. Ela tremia de medo só de falar o nome dele. Sem encontrar ninguém em casa ele foi para casa de vários parentes que não queriam recebê-lo. Passava um dia na casa de um e era tocado para a casa de outro... Não culpo os parentes, ninguém deve se colocar em risco dessa forma...


Em uma dessa viagens pegou um ônibus interurbano e ao entar, come;cou a conversar sozinho e deu um peteleco no chapéu de um senhor de aproximadamente 70 anos que estava no ônibus. Ao descer do ônibus esse senhor desceu atrás dele e lhe deu 2 tiros pelas costas, carregou sua garrucha e deu mais dois tiros, carregou de novo e deu mais dois tiros...


Meu irmão morreu antes da chagada da ambulância e dizia que a culpa havia sido dele, que ele tinha sido o causador de tudo.


Não sei o que aconteceu com o assassino de meu irmão. Acho que na verdade ele começou a ser assassinado com a aprovação da lei do deputado Paulo Delgado e com a falta de compromisso dos médicos psiquiatras.


Qualquer leigo sabia que meu irmão ia cometer ou ser vítima de uma tragédia. Sua história se escreveu ao longo de muitos anos, mas ninguém da área médica queria se comprometer ou perder algum tempo para analisar e resolver o problema...


É muito bacana falar de internação aberta quando não se convive com o problema todos os dias. Quando não se teme pela sua vida e das pessoas que você ama.


Minha mãe quase enloqueceu com tudo isso. Graças a Deus superou.


Já fazem 14 anos que meu brother morreu. Sinto saudades, choro de saudades do meu irmão, não da Besta que às vezes dominava seu corpo e sua mente. Dessa eu não tenho boas recordações e às vezes ainda tenho pesadelos com ela!




Desculpe se houver erros de concordância, de digitação ou de português, mas é um assunto muito doído e não vou ler tudo de novo para fazer uma revisão.

2 comentários:

  1. Oi :)

    estava te devendo vir aqui. lindo teu canto. e, para variar meu olho enxergou logo a obra do topo do post, Munch!

    venho com mais calma ler esse post e passear por aqui.

    bjim 'menina'!

    ResponderExcluir
  2. As pessoas realmente não entendem um problema quando não passam por ele...é muito fácil julgar a vida e a atitude das outras pessoas quando estamos do lado de fora...falar é muito fácil...comovente sua história...bjus.

    ResponderExcluir